Entendido como o salvador da pátria

Enquanto não melhorarmos os atuais sistemas de ônibus urbanos, nunca alcançaremos avanço

Editorial

Há, no meio dos muitos formadores de opinião relacionados com o transporte coletivo, a crença que o ônibus elétrico é o exemplo capcioso do título deste artigo. Virtudes para isso possui, mas não está sozinho no mercado como o único a responder por desafios impostos quanto a qualificação dos serviços e da melhoria do ar que respiramos.

A edição do jornal goiano O Hoje, de 6 de abril passado, estampou uma reportagem de quase página inteira, fazendo referência sobre a tecnologia da tração elétrica como potencial indutora do desenvolvimento do Corredor Anhanguera, importante eixo de transporte coletivo da cidade de Goiânia e que vem sofrendo, há tempos, com a falta de compromisso governamental na manutenção de sua infraestrutura.

O Governo de Goiás anunciou que locará 114 ônibus 100% elétricos a bateria para a renovação da frota do respectivo sistema, como forma de melhorar as condições dos serviços locais. O próprio texto do jornal faz menção sobre a chegada dos veículos e seus benefícios que poderão ser alcançados, visando a satisfação dos passageiros, cansados da baixa qualidade operacional do corredor.

Contudo, somente veículos desse tipo não serão suficientemente aptos a aperfeiçoar o cambaleante sistema, com suas dificuldades voltadas com a má conservação da infraestrutura relacionada (pavimento das vias, a revitalização das estações, aumento da segurança), reorganização das linhas, acessibilidade e manutenção da atual frota de ônibus a diesel.

Sabemos que sistemas de BRT (Trânsito Rápido de Ônibus) bem elaborados, geridos, mantidos e rentáveis, trazem resultados positivos a todos, mesmo que utilizem ônibus com motorização a diesel. Mais uma vez repetindo, esta editoria não é contra o ônibus elétrico. Tem o seu total apoio na utilização, desde que não seja uma aventura ideológica e inviável economicamente (um chassi básico custa em torno de R$ 1,8 milhão e a carroçaria algo como R$ 750 mil – quem está a fim de arcar com as despesas?).

Ainda engatinhamos quando o assunto é o tipo de tração elétrica (a baterias) largamente utilizado em várias partes do mundo. É preciso entender como um ônibus com sua concepção de tração limpa poderá encarar o árduo trabalho diário ao locomover um expressivo número de pessoas em condições adversas de clima, operação e capacidade, pois as baterias tomam espaço no desenho estrutural dos veículos e consomem energia em muitos momentos.

Os desafios dos sistemas brasileiros de transporte coletivo extrapolam os mais diversos exemplos de uso dessa tecnologia em outros países. Somos um caso em que as avaliações precisam mostrar, minuciosamente, todo o investimento pretendido, seja pelo lado governamental e privado. Lembrando que não se discute os benefícios ambientais pela redução significativa da poluição emitida, provada com a tecnologia embarcada.

No calor das ideias e propostas, deveríamos pensar, primeiramente, em revitalizar os corredores existentes e ampliar a oferta dos mesmos para que o fluxo rápido dos ônibus possa ser aliado dos ensejos de quem mais precisa do transporte, mesmo que para isso ainda haja a operação de ônibus com motor de combustão interna.

Os propulsores Euro VI logo serão realidade no mercado brasileiro, trazendo uma boa vantagem ambiental frente aos atuais modelos Euro V. Claro que, se houver uma comparação simples entre a tecnologia do elétrico, este se sairá vencedor por sua eficiência, economia e por ser saudável.

Além disso, sem querer eleger apenas um salvador da pátria, precisamos, também, resolver os problemas que mais afetam o modal, no que tange as tarifas, rentabilidade e qualidade dos serviços, como ainda, buscar renovar o padrão de ônibus largamente utilizado, com modelos mais acessíveis, de motorização traseira e layout interno com conforto. E, óbvio, também apostar em tecnologias alternativas e limpas em termos de biocombustíveis, como o HVO e o biometano, fomentando mercado para ambos, fato que contribuirão com o contexto ambiental e sua pegada de carbono.

Ônibus elétrico é bonito, verde e atrativo, mas sua conta ainda é alta. É preciso encontrar mecanismos para que ele fique viável, economicamente, para quem vai operá-lo. Enquanto isso não chega, o momento da transição é ideal para integrar todos os conceitos tecnológicos existentes na indústria local que, para o Brasil, trata-se de uma peculiaridade a ser observada.

Imagens – Reprodução da internet

A melhor maneira de viajar de ônibus rodoviário com segurança e conforto

Ônibus movido a biometano, por Juliana Sá, Relações Corporativas e Sustentabilidade na Scania

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