A capital colombiana se tornou, há alguns anos, referência em transporte coletivo ao adotar em seu sistema uma ideia brasileira, criada pelo arquiteto paranaense Jaime Lerner, que sempre viu nos ônibus a oportunidade para se oferecer serviços de mobilidade com qualidade, menor custo operacional e de implantação, além de ter um caráter integrador e limpo.
Curitiba foi a primeira cidade brasileira, da América Latina e do Mundo a liderar essa concepção por intermédio da construção de corredores exclusivos para o modal, dando-lhe prioridade e para os passageiros a rapidez e o conforto, muito próximos de um sistema de metrô.
Agora, Bogotá quer ir mais longe, reforçando seu ideal de uma cidade comprometida com a mobilidade e o melhor transporte. Para isso, está trabalhando em três frentes envolvidas com o segmento. A primeira se trata do projeto do Corredor Verde que será construído na Sétima Carrera. De acordo com a prefeitura, ele trará uma mudança e uma solução para as necessidades e demandas dos cidadãos que exigem mobilidade inclusiva, sustentável e equitativa há décadas.
A nova via contará com transporte público 100% elétrico operado pela Operadora de Transporte Público La Rolita, com 23 estações abertas, esteticamente integradas ao ambiente urbano, 1 pátio com estações de recarga elétrica dos ônibus, 24 km de ciclovia segregada, 280.000 metros quadrados de espaço público.
O Corredor Verde facilitará a mobilidade de cerca de 12.000 passageiros por hora na área de Chapinero e no Centro Internacional (com possibilidade de expandir a capacidade para 15.000) e aproximadamente 18.000 no setor de Usaquén. Isso reduzirá seus tempos de viagem em até 50%, fator que beneficiará mais de 1,5 milhão de pessoas.
Parada ecológica
Ainda, na mesma linha da sustentabilidade ambiental, Bogotá apresentou a nova estação Ricaurte, localizada na Calle 13 com a Avenida Norte Quito Sur (NQS), com uma pegada para promover o reaproveitamento de plásticos, fomentando a economia circular. Para isso, foram utilizadas 8,5 toneladas de plástico reciclado, o que equivale a 1,2 milhão de sacolas plásticas; além da instalação de um sistema de energia elétrica fornecida por 32 painéis solares, com capacidade de geração de 25.537 quilowatts por hora (kWh) anualmente, o que permitirá que a estação seja mais do que autossustentável.
De acordo com o TransMilenio, a intervenção incluiu obras nas entradas, coberturas, pisos, iluminação, paredes e elementos exteriores da estação, tendo ainda melhorias na sinalização e exposição de material didático sobre iniciativas de economia circular, reaproveitamento do plástico e cuidado com o meio ambiente.
O hidrogênio como combustível
A iniciativa pelo uso de novos tipos de combustíveis e novas formas de tração nos ônibus pode ser reconhecida pela apresentação de um veículo diferenciado, trazendo as células a combustível como geradora de energia elétrica. O projeto da prefeitura de Bogotá pretende explorar esse novo modelo de propulsão, o que inclui a produção de hidrogênio verde, um sistema de compressão e armazenamento do combustível, uma estação de abastecimento e um ônibus com capacidade para 50 passageiros.
A gestão municipal também salienta que o projeto vem para contribuir com o desenvolvimento do roteiro do hidrogênio verde elaborado pelo governo nacional para avançar na transição energética e na descarbonização do transporte público.
Em linhas gerais, o novo ônibus foi produzido pela Superpolo (com envolvimento de 100 profissionais em seu projeto), tem nove metros de comprimento, capacidade para 50 passageiros e tem capacidade para armazenar 30 quilos de hidrogênio, o que lhe dá autonomia para uma operação de 450 quilômetros. A previsão é que o veículo transporte quase 100 mil passageiros por ano. Ele ainda conta com células a combustível da marca Toyota e baterias de lítio e ferro-fosfato.
A produção de hidrogênio se dá por meio da eletrolise da água, sendo que a infraestrutura relacionada a isso pode armazenar 140 quilos do combustível, tendo ainda sistema de abastecimento que não demora mais do que 10 minutos. Numa segunda fase, toda a produção de hidrogênio verde se dará por dois mil painéis fotovoltaicos, de geração para 1 mW de energia.
O planejamento é algo fundamental em um sistema de transporte coletivo organizado, comprometido com vários aspectos que envolvem a qualidade dos serviços, a prioridade operacional, a sustentabilidade econômica e ambiental, além da valorização do espaço público, bem como o respeito e a atenção promovida aos habitantes das cidades. Bogotá prova que é possível oferecer os melhores serviços de ônibus com políticas públicas empenhadas na bandeira de projetos de Estado e não eleitoreiros. Com isso, a cidade ruma para revigorar sua imagem positiva quanto à sustentabilidade.
Imagens – Divulgação TransMilenio e Superpolo
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