O mercado brasileiro de ônibus elétrico para o transporte urbano vem se aquecendo nos últimos tempos. Os fabricantes nacionais de chassis e até mesmo uma encarroçadora estão no páreo de uma competição comercial que visa dar novos contornos na era da mobilidade eficiente e limpa. Para isso, cada participante tem mostrado os seus conceitos que levam em consideração a configuração tecnológica e de capacidade operacional, baseadas no cotidiano dos serviços e das próprias cidades.
Ao se inserir nesse segmento, a indústria brasileira de ônibus reforça sua expertise em fabricar produtos identificados com as demandas locais e, também, internacionais, com presença, até pouco tempo atrás de modo enfático, em determinados mercados, como a América Latina, por exemplo. Contudo, a concorrência na questão eletrificação aumentou nos anos que se passaram, com a chegada dos chineses que souberam tirar a predominância do País, principalmente neste momento em que todos buscam por sistemas de transporte com tração limpa.
Antes tarde do que nunca, o negócio é tirar o atraso e reconquistar o espaço cedido para os competidores externos, de uma maneira que possa apresentar produtos confiáveis, com alto desempenho, tecnologia de ponta e viáveis economicamente. Dessa maneira, trazer de volta o protagonismo comercial que bem cabe ao setor brasileiro e sua capacidade de fazer os melhores ônibus é essencial.
Dentre as principais fabricantes brasileiras de ônibus, nomes como Mercedes-Benz, Marcopolo e Eletra, já mostraram seus desenvolvimentos e prospectam novos mercados ou mesmo aqueles que foram atendidos pelos concorrentes internacionais.
Agora, é a vez da Volvo Buses LA entrar no jogo, ressaltando sua experiência em disponibilizar veículos e soluções orientados para uma mobilidade elétrica, seguindo os seus preceitos que já são explorados como fatores que podem ser determinantes no futuro das cidades – tração limpa, prioridade operacional aos ônibus, qualificação dos serviços, tecnologia, segurança e eficiência.
Seu mais novo produto é a síntese da filosofia empresarial moderna e avançada. Denominado BZL, o chassi traz inovações que contemplam vantagens, conforme ressalta a empresa, frente aos outros competidores, como por exemplo, o menor peso e a autonomia ideal aos seus desafios.
O modelo tem a versão 4×2 e seu trem de força, totalmente desenvolvido pela Volvo, conta com o motor elétrico de 200kW de potência, além de baterias de íon lítio (e Níquel, Cobalto e Óxido de Alumínio) de 94 kWh, com um total instalado no veículo de quatro unidades, que serão recarregadas pelo sistema CCS 2 de 150 kW. O veículo possui carroçaria Attivi, da Marcopolo, com piso baixo, tendo 12,6 metros de comprimento e capacidade para até 80 passageiros.
Em linhas gerais, o motor elétrico de imãs permanentes pesa 200 quilos, considerado o menor dentre a concorrência, e conta com sistema de extinção de incêndio por gás originado da reação entre o potássio e hidrogênio.
Alexandre Selski, diretor de eletromobilidade em ônibus da Volvo, comentou que esse novo chassi é o resultado de uma jornada de longa data que a fabricante vem participando, trazendo produtos idealizados para a proposta de cidades seguras e em harmonia com o meio ambiente. “Há alguns anos já investimos no conceito híbrido e agora estamos apresentando um veículo 100% elétrico dedicado para os mercados do Brasil e América Latina. Temos experiências positivas na Europa e em diversos países de outros continentes e agora vamos mostrar que esse bom desempenho se repetirá nas condições severas daqui”, ressaltou.
O executivo também lembrou que, além de um motor elétrico, o chassi poderá ter dois motores, dependendo das características operacionais. “No caso de Curitiba, a autonomia do nosso chassi será de até 300 quilômetros, pensada para a operação local. Outro detalhe é o sistema de segurança incorporada no veículo, preparado para a ativação do serviço de Controle Automático de Velocidade, recurso que utiliza a conectividade GPS do veículo para identificar com exatidão a área de circulação e reduzir a velocidade automaticamente em locais críticos”, observou Selski.
André Marques, presidente da Volvo Buses na América Latina, salientou que a marca preza por entregar ao mercado os melhores produtos e soluções de transporte, sempre com a missão de ser seguras, ambientalmente corretas e rentáveis. “Precisamos investir no transporte público para que ele seja seguro, eficiente e atrativo para os passageiros e para as cidades. Nosso grande desafio é fazer com que as pessoas deixem, de maneira consciente, os seus automóveis para se utilizarem dos ônibus em seus deslocamentos. E, todos esses valores podem ser representados nesse novo chassi que estamos apresentando”, disse.
Ainda, segundo o executivo, os planos da Volvo não param por aí. O objetivo é atender a todos os nichos operacionais, principalmente no sistema curitibano, onde há a realização de diversos tipos de serviços, sejam eles por meios das categorias do Ligeirinho, dos articulados e, também, nas canaletas com os modelos maiores. “O sistema BRT é uma referência de Curitiba. E, em breve, veremos nas ruas da cidade outras versões de chassis elétricos que já estamos desenvolvendo, investindo pesadamente nas plataformas de eletrificação que nos colocará em posição de destaque mundial”, adiantou Marques.
Para o Setransp, entidade que reúne as operadoras curitibanas de ônibus urbanos, a avaliação com os ônibus elétricos na cidade tem levado em consideração a reunião de muitos dados para que a tecnologia da eletrificação seja adotada de forma definitiva. “Estamos contando com a ajuda da Lactec, instituto de pesquisas do Paraná, para nos auxiliar com todas as demandas envolvidas com os testes. Já avaliamos quatro modelos de ônibus e o da Volvo será o quinto para conhecermos todas as suas vantagens e, também, deficiências”, disse Maurício Gulin, presidente do Setransp.
O executivo também comentou que há muitos aspectos dentro da eletromobilidade que precisam ser observados, principalmente no sentido da infraestrutura de recarga elétrica, fator essencial para o sucesso da operação e da utilização desse tipo de ônibus. “Estamos debatendo com todos os envolvidos nesse projeto para encontrarmos soluções e viabilidade quanto a termos infraestrutura elétrica com capacidade para podermos fazer a recarga elétrica de nossos veículos sem interferir na vida urbana. Novamente, a Lactec tem participação ativa para termos respostas quanto a todas as dúvidas relacionadas com esse assunto, que é fundamental”, explicou Gulin.
A cidade de Curitiba quer investir R$ 200 milhões na compra de 70 ônibus com tração elétrica (a baterias). O processo público de aquisição ainda não foi iniciado, contudo, o anúncio mobiliza os principais fabricantes do veículo, que estão participando dos testes. Já os sistemas de recarga elétrica serão por conta dos operadores. “Hoje, no projeto de Curitiba, teremos três garagens equipadas com esses sistemas. Isso envolve um processo de isolamento para a implantação dos equipamentos em nossas instalações, como também uma nova rede de energia para abastecer essas garagens. Além disso estamos estudando que tipo de recarregadores serão adotados, sua capacidade energética e o quanto será investido”, comentou Gulin.
O programa curitibano de avaliação dos ônibus elétricos no sistema de transporte coletivo pode servir da base e exemplo para que as grandes cidades brasileiras possam introduzir esse conceito limpo de mobilidade, levando em consideração os vários critérios operacionais e os modelos de cenários que requerem o conhecimento da tecnologia. O que não se pode admitir são os arroubos de gestores públicos municipais que acreditam na eletromobilidade como sinônimo de status e de evolução do modal.
Imagens – Revista AutoBus
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