Por Rogério Pires, diretor da Divisão de Veículos Comerciais – Voith Turbo América do Sul
Imaginem um motorista de ônibus urbano em condições de tráfego compartilhado em uma grande cidade de nosso país. A cada quilômetro, ele deve garantir que três ou quatro processos de arranque e parada sejam realizados de forma adequada e confortável aos passageiros. Em cada um destes ciclos, o motorista realiza várias trocas de marcha, sendo que, para cada uma delas, temos um acionamento da embreagem. Em um turno de trabalho, são milhares de vezes que este profissional é obrigado a realizar esse procedimento de forma repetitiva, sempre preocupado em que o mesmo seja o mais adequado possível. Isso dentro de um contexto de temperaturas e ruídos elevados, principalmente nos veículos equipados com motor dianteiro.
Por melhor que seja o motorista, é impossível que, dadas as condições de trabalho, ele seja capaz de operar o veículo com a mesma eficiência e precisão durante todo o expediente.
Isso podemos chamar de tecnologia desumana.
Apesar de estarmos observando um grande foco nos aspectos ambientais relacionados à tecnologia de nossos ônibus urbanos, infelizmente a grande maioria desses veículos ainda possui motor na dianteira e transmissão manual.
Diversas regiões no mundo, inclusive países em desenvolvimento, já optaram pela automação de sua frota urbana visando a estabilidade operacional e o bem-estar do motorista. Além disso, reduzindo a variabilidade na condução, temos menor desgaste de componentes, redução do número de acidentes e da poluição ambiental.
Curiosamente, nos segmentos rodoviários, onde a frequência de trocas de marcha é muito menor, a automação já é uma realidade.
As transmissões automáticas para ônibus urbanos são hoje em dia extremamente confiáveis e eficientes, graças à sua eletrônica integrada ao restante do trem de força e ao veículo. Tudo pode ser programável e ajustável de acordo com cada condição de operação. A maior parte das transmissões automáticas oferecidas no mercado conta com retarder integrado, que pode absorver até 80% de toda a energia na frenagem, mantendo os freios mais frios para casos de emergência. Além disso, reduzem drasticamente a emissão de material particulado de freios (hoje são toneladas desses materiais jogados na atmosfera devido à falta de tecnologias avançadas de frenagem).
Sistemas de hibridização leve (Mild Hybrid 48 V) já são oferecidos de maneira integrada às novas transmissões automáticas, auxiliando todos os acessórios eletrificados do veículo e permitindo uma redução superior a 15% quando integrados à tecnologia stop-start.
Pensar no futuro elétrico é necessário, porém, podemos atuar com uma tecnologia mais humana para nossos padrões atuais, criando uma transição energética socialmente justa e economicamente sustentável.
Imagens – Divulgação
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