Num passeio pela fábrica da Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo, SP, precisamente na linha de produção de chassis para ônibus, a primeira impressão que fica é o estágio de evolução em termos de harmonização entre a automação e a mão de obra humana, num ritmo em que impera a segurança, a eficiência e a qualidade na fabricação de uma gama de produtos apta a atender aos diversos nichos operacionais no transporte de passageiros.
O constante vai e vem dos AGV´s (veículos guiados automaticamente) que levam peças e componentes aos colaboradores, em suas seções na montagem dos chassis, além de transportarem toda a estrutura dos veículos em produção, nos dá uma dimensão desse processo de automação que recebe atenção da fabricante para facilitar a interação entre homem e máquina.
Para a Mercedes-Benz, o uso do AGV contribui de forma eficiente o trabalho em toda a sua linha de fabricação, proporcionando que os conceitos da Indústria 4.0 resultem em ganhos importantes de ergonomia, qualidade de vida e segurança no ambiente de trabalho para os colaboradores. Assim, a tecnologia digital, conectividade, dados na nuvem, Big Data e Internet das Coisas já estão presentes em sua unidade produtiva, tornando-a numa das mais modernas dentre o mercado.
Numa área de 48 mil metros quadrados são montados os chassis com motorização dianteira (com componentes parafusados) e outras versões equipadas com motores traseiros e piso baixo (componentes soldados), sempre seguindo uma lógica que combina o uso de ferramentas inteligentes e a mão de obra qualificada para que os produtos saiam da linha com a máxima perfeição. Além dos já consagrados modelos a diesel produzidos, o espaço, também, abriga a montagem do chassi com tração elétrica, por meio de uma equipe altamente treinada para lançar mão das especificações de segurança e qualidade.
Aliás, a marca da estrela pretende fazer ajustes em sua linha para poder acomodar a produção de seu mais novo veículo elétrico para o transporte urbano – o chassi articulado. Isso exigirá, também, uma transformação no layout interno, com a implantação de uma nova área de revisão final dos chassis permitindo um melhor monitoramento dos modelos quando, então, finalizados.
Pioneirismo em projeto
A fábrica da Mercedes-Benz é o centro mundial de competência do Grupo Daimler para desenvolvimento e produção de chassis de ônibus. De suas linhas de produção saem veículos para os clientes brasileiros e de vários outros países da América Latina e outros continentes, que atendem às legislações e especificidades de cada mercado, com a qualidade da marca Mercedes-Benz. Foi de lá que saiu um veículo, até hoje preservado, que mostra o marco histórico da fabricante em dispor de modelos de ônibus confiáveis ao mercado brasileiro.
Em um evento que reuniu alguns jornalistas segmentados do transporte, a empresa expôs três modelos de veículos, cada um com características diferentes e uma linha do tempo que mostra toda a evolução. Dessa maneira, a Mercedes-Benz mostrou o seu consagrado chassi com piso baixo O500U, dedicado para corredores e sistemas que exijam veículos robustos e eficientes; o seu modelo com tração elétrica eO500U, que já tem conquistado espaço no transporte coletivo das cidades que querem ser exemplos em sustentabilidade ambiental; e o símbolo de uma época, o O-321 HL, versão integral, conhecida como monobloco.
Este editor poderia falar dos modelos atuais, com as mais modernas tecnologias embarcadas, próprios para alcançarem rentabilidade, desempenho e segurança, peculiaridades que estão presentes na marca da estrela de três pontas desde que aqui aportou para a sua jornada de muitos anos. Mas não, o foco é a nostalgia, oriunda de um modelo que apresentou ao mercado conceitos, até então, inéditos introduzidos para a otimização operacional.
O monobloco O-321 HL preservado pela fabricante representa o estado da evolução histórica capaz de levar as pessoas ao passado. Ao passear com ele numa volta dentro da fábrica nos sentimos como se estivéssemos na década de 1960, ao observarmos os detalhes internos, como poltronas em courvin (com cinzeiros), o acabamento, janelas laterais com bandeira fixa colorida, o ronco característico de seu motor com incríveis 120 cv de potência, uma suspensão macia e um desenrolar que nos faz viajar no tempo.
Essa versão de ônibus foi produzida aqui a partir de 1958 (sendo lançado na Alemanha Ocidental em 1954, com pequenas diferenciações em seu layout e acabamento) e o modelo em questão é de 1961. Para um tempo em que os ônibus nada mais eram que caminhões disfarçados com carroçaria para o transporte de pessoas, o monobloco O-321 chegou para impactar, positivamente, o mercado, propiciando maior conforto aos passageiros e melhor condução aos motoristas.
Para Humberto Pessoa, da área de Marketing de Ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, na função de instrutor de operação, demonstração e treinamento de ônibus desde 2019, mas com envolvimento com a marca já a partir de 1991, o fato da marca preservar esse tipo de veículo lhe traz uma satisfação enorme, ao ver que os visitantes, quando estão próximos ao O-321, demonstram uma alegria em virtude de suas características, estado de manutenção e das cores que chamam a atenção do público. “É motivante ver que as pessoas olham com carinho para o veículo e viajam na história. O modelo representa como foi a evolução dos ônibus no Brasil e permite dar a experiência sobre como era utilizar esse clássico em outros tempos em que a tecnologia ainda não existia. Com ele, é possível fazer uma comparação do que foi o ontem e como é, hoje, em termos dos vários aspectos envolvidos com a sua construção”, ressaltou Pessoa.
O veículo preservado pela Mercedes-Benz está com todo o sistema de partida original, ou seja, dínamo, regulador de voltagem, aquecedor etc., nada de alternador! E tem segredo, para quem quiser ligá-lo. Deve-se levar a alavanca de freio motor a posição “não”, colocar o câmbio em neutro, inserir a “chave prego” até que acenda as luzes de contato no painel. A partida é feita por um “puxador” que deve ficar acionado no primeiro estágio por 1 min, aproximadamente, até uma resistência (parecida com as de chuveiro) ficar em brasa. Consegue-se verificar isso por um mostrador furadinho junto ao puxador. Esse aquecimento se dará também no motor, para esquentar o combustível, facilitando a ignição e partida do motor. Após aquecido, puxar o segundo estágio para dar partida. Pronto. Só liberar o freio estacionário, engatar a marcha, e curtir a viagem, no trecho e no tempo!
Sua construção integral (unindo plataforma e estrutura da carroçaria numa peça só), com uma estética externa avançada para a época e um interior capaz de oferecer conforto e segurança, fez com que a Mercedes-Benz conquistasse maior presença dentre o segmento do transporte. Lembrando que o modelo podia ser produzido nas versões urbana e estradeira e muitos foram os operadores que elegeram o veículo para comporem suas respectivas frotas.
Se hoje, a marca dispõe de uma gama completa para os variados nichos de operações, com o sucesso alcançado, o monobloco ou “bicudinho”, assim chamado por muitos, foi o ponto de partida que contribuiu com o desenvolvimento, ao longo dos anos, de chassis e veículos idealizados com o propósito do melhor transporte sobre pneus.
Imagens – Revista AutoBus
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