Por Rodolfo Rizzotto, editor do portal estradas.com.br
Colisões de ônibus na traseira de caminhões são notícias frequentes no Brasil. Grande parte desses acidentes ocorre à noite, em pistas duplicadas, e tem como causa principal a fadiga dos motoristas, muitos dos quais trabalham para grandes empresas de transporte.
A situação se agravou com a proliferação de aplicativos de transporte, que geraram uma concorrência desleal. Empresas comprometidas com a segurança, respeitando a jornada dos motoristas, enfrentam dificuldades frente a concorrentes que oferecem passagens a preços cada vez mais baixos, sem qualquer controle sobre padrões mínimos de segurança.
Enquanto o nome do aplicativo aparece em destaque na venda da passagem, em caso de acidente, a responsabilidade recai exclusivamente sobre a empresa de transporte, com o aplicativo assumindo o papel de mero intermediário.
Transporte Clandestino e Fiscalização Deficiente
Paralelamente, o transporte clandestino opera livremente, muitas vezes amparado por liminares judiciais ou mesmo sem elas, num cenário de impunidade. A fiscalização é insuficiente, tanto em rotas interestaduais quanto intermunicipais.
Esses transportadores clandestinos e similares de aplicativos embarcam e desembarcam passageiros fora de terminais rodoviários, em locais públicos sem qualquer controle das autoridades. O problema se agrava quando empresas regulares começam a adotar práticas semelhantes, nivelando-se por baixo e colocando a segurança em segundo plano.
Normas regulatórias também têm sido alteradas para atender interesses econômicos, em detrimento da segurança. Um exemplo preocupante é a revogação, pela ARTESP (agência reguladora de São Paulo), da obrigatoriedade de paradas em viagens acima de 170 km, estendendo-a para 350 km, sem qualquer estudo que justificasse a mudança.
Essa flexibilização favorece empresários irresponsáveis, que exploram motoristas ao extremo, aumentando os riscos de acidentes. Passageiros acabam submetidos a longas jornadas sem paradas, precisando se deslocar em veículos em movimento para usar banheiros improvisados, com precárias condições de higiene. Essa prática aumenta o risco de quedas, especialmente para idosos e mulheres grávidas, além de outros problemas de saúde decorrentes da falta de pausas regulares.
O Descumprimento da Lei e o Risco de Vida
Em casos de acidentes, algumas empresas chegam ao extremo de cobrir os veículos com lonas para esconder marcas e evitar exposição negativa. Um exemplo recente foi o caso de uma empresa de um grande grupo envolvida na morte de um romeiro na Rodovia Dutra, em outubro. O condutor do ônibus apresentava irregularidades no cronotacógrafo e estava com exame toxicológico vencido, evidenciando o descaso com a segurança.
Com a proximidade das férias, quando o fluxo nas rodovias aumenta, muitos motoristas enfrentam jornadas duplas ou excessivas horas ao volante. O resultado são mais acidentes, vidas perdidas e o crescente descrédito do setor.
Valorização dos Bons Exemplos e Rigor na Fiscalização
É essencial que as autoridades, a imprensa e a sociedade civil reconheçam e divulguem as boas práticas no setor. Empresas que investem em segurança, respeitam as jornadas dos motoristas e priorizam o bem-estar dos passageiros devem ser valorizadas.
Ao mesmo tempo, a aplicação rigorosa da lei é indispensável para penalizar empresas que colocam o lucro acima da segurança, sejam elas regulares ou clandestinas. Somente assim será possível reduzir o número de acidentes, salvar vidas e restaurar a credibilidade do transporte rodoviário de passageiros no Brasil.
Imagens – Reprodução da internet e acervo pessoal
0 comentários