O transporte coletivo ladeira abaixo

O que é para ser um instrumento de incentivo ao bom desenvolvimento urbano, sofre com a desqualificação e a falta de valorização

Editorial

De tempos em tempos, os sistemas de transporte coletivo urbano brasileiros sofrem com alguma “nova” ação que os levam a ser preteridos quando o assunto é mobilidade. Recentemente, a proposta de incluir o mototáxi na modalidade de transporte por aplicativo, assim como já com os automóveis inclusos em plataformas digitais, vem ganhando força em muitas cidades como forma de permitir ao cidadão acesso aos deslocamentos.

O assunto tem defensores de ambos os lados, tanto daquele que preconiza a segurança e a eficiência do consagrado modelo do transporte feito por ônibus, metrôs e trem, como do setor que busca se inserir como novidade (com a atratividade de ser rápido), mas que tem um caráter nada favorável em termos de segurança e efeitos sobre a estrutura urbana.

É notório que os serviços do transporte coletivo (ônibus, pois ele é o que mais transporta pessoas nas cidades) ficam aquém do que os verdadeiros clientes querem em suas jornadas para o trabalho, escola e outras finalidades. Conforto, segurança, tarifas e rapidez têm sido condicionantes que estimulam os passageiros a repensarem sobre suas viagens diárias, procurando outros modelos que sejam mais cômodos, eficientes ou mesmo interessantes quanto aos bolsos.

Este espaço mantém sua convicção que, aquele passageiro que sai porta à fora, não volta mais a procurar o ônibus como veículo de transporte. O setor, ainda, está dormindo em cima dos louros? Não se atentou ao fato que o passageiro deixou de ser cliente cativo? O que transportadores e poderes públicos andam fazendo para que essa situação não leve, de fato, ao caos da mobilidade urbana?

Se há uma busca por outros tipos de transporte é porque aquele que antes era protagonista, deixou de atender com atenção seu público. É como se um tradicional comerciante perde seu cliente acomodado frente aos outros desafios que lhe acompanham. A oferta de outros modelos de transporte só está em evidência porque ninguém mais quer o ruim ou aquilo que não tem desempenho. Se o mototáxi for atrativo, as pessoas vão investir, e cada vez mais, nele.

A recente pesquisa Origem e Destino (feita pelo Metrô de SP), que desde 1967 mostra um retrato sobre a mobilidade urbana na cidade de São Paulo e sua região metropolitana, confirma, mais uma vez, a crise do transporte público, com especial atenção para os serviços de ônibus, que só vem perdendo viagens e participação dentre os modais, enquanto o transporte individual mante-se acima do que podemos chamar de coletivo.

E olha que São Paulo tem um significativo sistema de transporte com uma malha considerável de ônibus, trens e metrô. No entanto, a carência por um privilégio à rapidez nas viagens da superfície (vias segregadas e prioridade em semáforos) prende o ônibus aos congestionamentos.

O transporte coletivo está com o freio de mão puxado, enquanto outras modalidades que se atribuem ao deslocamento das pessoas, estão em quinta marcha. Não será o mototáxi ou outro aplicativo que irá salvar a mobilidade das pessoas nas médias e grandes cidades se o trânsito continuar piorando, com engarrafamentos e um número, cada vez maior, de veículos nas ruas. Ou o transporte coletivo ganha destaque e qualificação ou estaremos presos, por mais tempo, em nossos deslocamentos.

Imagem – Reprodução

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