Por André Dantas, engenheiro civil com doutorado em transportes
Mesmo conhecendo o país, tudo foi muito impactante. Os japoneses devem ser reverenciados por todo esforço depois do fim da Segunda Grande Guerra Mundial e por estarem em contínuo processo de melhoria. Houve planejamento, investimento e certamente a visão empreendedora e inovadora foi crítica em criar um complexo sistema de serviços de transportes que funcionam, com altíssimo nível de confiabilidade, alta qualidade e alto benefício/custo para o usuário.
Tóquio é um “parque de diversões” para um engenheiro de transportes. Como diz o meu amigo, e morador de Tóquio, Sideney Shreiner, é praticamente impossível comparar com as outras cidades do mundo. São muitas pessoas, o tempo todo e em todos os lugares. E além dos mais de 30 milhões de moradores da região metropolitana, há outros milhões de turistas! Além de todo o sistema de transporte público, obviamente, há o transporte privado (poucas motos e muitos caminhões e automóveis). Há congestionamento em várias partes da cidade, mas é pontual. Todavia, uma parte do sistema muito legal é a rodovia elevada, pedagiada, que conecta a cidade toda.
Além de Tóquio, as outras cidades também sistemas de transporte público de qualidade. A região metropolitana de Osaka, que engloba, entre outras, Kyoto, é um emaranhado de ferrovias, linhas de ônibus, metrô e tudo mais que eles conseguiram encaixar. Nos mesmos moldes de Tóquio, não se pode ignorar o tamanho do sistema de Osaka. E neste ano ainda vai ter a Expo Mundial.

André Dantas
Nem tudo são flores, obviamente. No interior, que perde população para as grandes cidades, os sistemas carecem cada vez mais de subsídio e/ou as tarifas são muito altas, como costumamos observar no Brasil. Mesmo com toda a riqueza do país e municípios, não há outra saída senão aumentar a tarifa. De forma geral, o transporte é caro (não quero nem contabilizar o quanto gastei em transporte público!). Todavia, o importante é deixar claro que há uma situação complexa que aflige os técnicos japoneses.
Para finalizar, tenho que registrar a vida acadêmica no Japão. Muitos dos professores que conheci já se aposentaram ou estão no processo. Nas conversas e discussões técnicas, senti um pouco de dificuldade em expressar a realidade recente que vivi em Belo Horizonte. Nos muitos artigos científicos que li, também percebi uma desconexão com a realidade em geral. Por exemplo, há muitos modelos matemáticos conceituais e poucas resoluções de problemas práticos. Nada de diferente de muitos outros países. Valeu muito pela oportunidade de tentar entender a percepção diferente do colega.
Encerro esta série de artigos, agradecendo ao Antônio Ferro. Fico à disposição para quem quiser conversar sobre esta viagem e outros projetos.

Ônibus urbano movido a hidrogênio
Imagens – André Dantas
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