A maior cidade da América Latina promoveu, há poucos dias, um evento que foca no tema da redução das emissões poluentes de seus ônibus. Por meio do Seminário Mobilidade Sustentável, a prefeitura paulistana quis mostrar que o transporte coletivo local pode, sim, ter outros modelos energéticos que contribuam com a sustentabilidade ambiental. E o biometano foi o combustível bola da vez, visto que os problemas ocasionados pela falta de infraestrutura para os ônibus elétricos têm causado transtornos na operação.
O seminário, que foi organizado pela Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas, órgão que tem como objetivo levar a consciência climática a todos os segmentos da sociedade paulistana, debateu com especialistas, fornecedores do biocombustível e a indústria de veículos a possibilidade de ter nas ruas da metrópole o uso comercial do biometano.
A frota de ônibus da cidade conta com 12 mil ônibus, transportando sete milhões de passageiros por dia e tem recebido, nos últimos dias, veículos com tração elétrica em atendimento à Lei Municipal 16.802/2018 (flexibilizada pela Lei 18.225/25) que determina a substituição da atual tecnologia de propulsão a diesel por modelos 100% limpos. Porém, a questão da infraestrutura e o fornecimento de eletricidade tem feito a cidade repensar na opção de, apenas, uma solução para a tração de seus ônibus.
Nesse sentido, o biometano é reconhecido como alternativa viável para manter esse padrão de substituição da frota, levando em consideração a mitigação da pegada de carbono que proporciona, transformando poluição em biocombustível renovável. Nas explanações dos convidados, a unanimidade em torno do biocombustível salientou o potencial brasileiro em produzi-lo, com amplas possibilidades de fontes. Assim, diversos setores, principalmente agrícolas, têm a capacidade de atender o mercado em escala comercial.
E, no caso da cidade de São Paulo, muitas das garagens de ônibus (63%) contam, em suas portas, com redes de distribuição de gás natural que podem trazer o biometano.

Agrale e Volare destacaram sua inovação
Durante o evento, foram apresentados alguns veículos, como um ônibus convertido com o motor a gás natural/biometano que será avaliado em operações reais, um micro-ônibus portando o chassi da Agrale e carroçaria Volare, além de um chassi de 15 metros da Scania.
O modelo Volare Fly 10 é a resposta da marca sobre seu alinhamento à sua estratégia de descarbonização do transporte de passageiros, com foco na inovação e no desenvolvimento de veículos com combustíveis sustentáveis, disponibilizando versões para os segmentos urbano, executivo e escolar.
De acordo com a Volare, foram quatro anos no desenvolvimento do projeto, seguindo seu contínuo processo de novas tecnologias. “O lançamento do Volare Fly 10 GV faz parte do compromisso da empresa com a descarbonização e uma mobilidade mais sustentável. Demonstra também os investimentos robustos que vem fazendo com o objetivo de oferecer ao mercado modelos com tecnologias que promovam eficiência na operação. As primeiras unidades já estão em operação nas cidades de Guarulhos e Belo Horizonte e o modelo está sendo oficialmente apresentado hoje, no Seminário promovido pelo Seclima, da Prefeitura de São Paulo”, disse Sidnei Vargas, gerente comercial da Volare.
Segundo a fabricante gaúcha, por meio de parcerias estratégicas, como essa com a marca Agrale, que forneceu o chassi (MA 11.0), o resultado é um veículo com características que contribuem para o transporte sustentável e eficiente. O motor (N60 GNC com 200 cv de potência) desenvolvido especialmente para aplicação GNV e biometano, em qualquer proporção, sem perda de potência e desempenho. Outro destaque é a redução de até 96% das emissões de material particulado e 84% de gases que causam efeito estufa.
A Scania esteve presente no Seminário com o seu chassi K340, para encarroçamento de 15 metros de comprimento, na versão 6×2. Ele é equipado com o propulsor de 340 cv, além de transmissão automática ZF.

A Scania reforça o seu conceito de sustentabilidade ambiental
Gestores públicos municipais, inclusive o prefeito paulistano, ressaltaram que essa tecnologia tem grande possibilidade de estar presente na capital em um curto prazo. No entanto, é preciso levar em consideração um planejamento quanto a oferta e distribuição do biocombustível, os investimentos necessários para a infraestrutura de abastecimento e a observação quanto aos custos da operação. A transição deve ser feita paulatinamente e não com afobação como está sendo com a tração elétrica, afinal, o tema do baixo carbono é o que deve ser seguido no propósito comum desse projeto de mobilidade limpa.
Aliás, a capital deveria, antes de mais nada, promover eficiência em seu sistema de transporte coletivo na superfície, adotando verdadeiros corredores para proporcionar velocidade aos ônibus, embarques rápidos e maior conforto aos passageiros. Qual a lógica de se ter ônibus limpos se os mesmos ficarem presos no trânsito? Investir em sistemas, do tipo BRT, é a oportunidade para que esse processo de descarbonização possa ser alcançado de forma viável no sentido econômico e ambiental, sendo, ainda, um caráter social de extrema valia.
Imagens – Revista AutoBus
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