Numa rápida conversa com o presidente do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba (Setransp), Mauricio Gulin, a revista AutoBus compartilha nesta entrevista uma visão sobre o setor de transporte coletivo urbano da capital paranaense, bem como a perspectiva sobre o futuro do modal ônibus.
Revista AutoBus – Para a entidade, como ela está vendo a atualidade do sistema curitibano de ônibus e suas demandas para se manter eficiente?
Maurício Gulin – O transporte coletivo de Curitiba é reconhecido, há mais de 50 anos, como referência nacional e internacional em qualidade e inovação. Esse reconhecimento só é possível graças a um esforço contínuo de aprimoramento do serviço, tanto por parte das operadoras quanto do poder público, com o objetivo de oferecer uma experiência de viagem à altura da exigência dos nossos passageiros.
AutoBus – No quesito tecnologia, quais são as que estão sendo aproveitadas para manter a eficiência dos serviços?
Maurício – A eficiência do transporte coletivo em Curitiba é resultado de uma combinação de fatores. No que se refere aos veículos, uma das inovações mais recentes foi a implantação de sete ônibus 100% elétricos em 2024. Além de não emitirem poluentes, eles oferecem mais conforto aos passageiros, com ar-condicionado e menor nível de vibração, graças à ausência de motor a combustão.
Desde dezembro do ano passado, também foram entregues 142 novos ônibus com motorização Euro 6 — mais eficiente e menos poluente —, todos equipados com câmeras de segurança. Com essas renovações, a frota da cidade passou a ser 100% acessível.
Na área da bilhetagem, Curitiba implantou o pagamento da tarifa com cartões de débito e crédito, além de ampliar o número de linhas com integração temporal, facilitando o deslocamento dos passageiros com mais flexibilidade e economia.
AutoBus – Quanto a eletrificação ou outro modelo que possa ser inserido no contexto da descarbonização do sistema e representante na linha de frente na operação, como o Setransp vê as possibilidades para se alcançar um ônibus com tração limpa?
Maurício – O Setransp atua em conjunto com o poder público para alcançar as metas estabelecidas pela cidade de Curitiba: 30% da frota com baixa ou zero emissão até 2030 e 100% até 2050. O sindicato entende que a transição para uma matriz energética limpa exige planejamento de longo prazo, investimentos significativos e segurança jurídica. Por isso, atua de forma alinhada ao órgão gestor, buscando atingir os objetivos com responsabilidade e viabilidade técnica e econômica.
Neste momento, os ônibus elétricos têm um apelo muito favorável para conquistar seu espaço no ambiente urbano. Contudo, os investimentos são altos. Ele são justificáveis a ponto de se dispender volumosos recursos públicos que poderiam ser utilizados para a otimização do sistema? Afinal, a participação dos ônibus como responsáveis pelas emissões poluentes é muito pequena.
Para o Setransp, é claro que não basta apenas substituir um ônibus a combustão por um elétrico e esperar que isso, por si só, traga os passageiros de volta ao sistema. O veículo elétrico deve ser parte de um conjunto mais amplo de melhorias no serviço, incluindo itens como ar-condicionado, carregadores de celular, infraestrutura urbana voltada à prioridade do ônibus, entre outros avanços. O foco deve ser a qualidade da experiência do passageiro.

Mauricio Gulin
AutoBus – Como o sindicato vê o futuro do transporte coletivo, tanto curitibano, como no geral? Será possível reverter a perda do seu público e trazer de volta a sua competitividade perante outros modais de transporte? O que fazer para que esse quadro negativo deixe de acompanhar o setor?
Maurício – O transporte coletivo no Brasil, em sua grande maioria, é um serviço público prestado por empresas privadas. Por isso, é fundamental que haja uma cooperação mútua entre ambos os lados — iniciativa pública e setor privado — em torno de objetivos comuns.
O Setransp acredita que o transporte coletivo por ônibus é essencial para garantir mobilidade urbana e não vê como ele possa ser substituído de forma simples ou eficaz por outros modais. Para que o sistema volte a ser competitivo e atraente, é imprescindível a adoção de políticas públicas que priorizem os ônibus. Eles oferecem inúmeras externalidades positivas: transportam mais pessoas, reduzem os congestionamentos, promovem a segurança viária e colaboram com a redução da poluição.
Entre as ações consideradas estratégicas pelo Setransp estão: a criação de faixas exclusivas para ônibus, manutenção de uma tarifa acessível, ampliação das opções de pagamento, uso intensivo de tecnologia embarcada e a disponibilização de informações em tempo real para os passageiros. Essas iniciativas são fundamentais para tornar o transporte coletivo mais eficiente, atrativo e competitivo frente a outros meios de locomoção.
Imagens – Divulgação e Ronaldo dos Santos
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