Biometano e etanol unidos na descarbonização do transporte

Os biocombustíveis foram ressaltados durante a COP 30 como mais uma alternativa para a promoção do transporte livre das emissões poluentes

Os ônibus e o transporte coletivo urbano poderão ser beneficiados com a adoção de combustíveis limpos e renováveis relativos ao modelo que visa a descarbonização da mobilidade. Durante a COP 30, realizada na paraense, Belém, o setor brasileiro de biocombustíveis lançou a Carta de Belém, documento que propõe um esforço internacional coordenado para quadruplicar a produção e o uso de combustíveis sustentáveis até 2035, em linha com recomendações da Agência Internacional de Energia (IEA).

O texto foi assinado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Associação Brasileira de Bioenergia (Bioenergia Brasil), Instituto Mobilidade de Baixo Carbono Brasil (Instituto MBCBrasil) e União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA), que conduziu a elaboração do documento.

E, nesse contexto, biometano e etanol podem andar juntos no setor de veículos comerciais e do transporte urbano. O respectivo documento dedica atenção à complementaridade entre combustíveis sustentáveis e eletrificação, afirmando que, especialmente em países com forte base agrícola e infraestrutura de recarga limitada, a combinação entre híbridos flexfuel, etanol, biometano e eletricidade constitui a rota eficiente em termos ambientais.

Sobre o biometano, a carta enfatiza o seu potencial de expansão, pois a partir de resíduos agrícolas e urbanos, o Brasil poderia produzir até 120 milhões de Nm³ (metro cúbico normal) por dia, volume suficiente para substituir 60% do diesel consumido no transporte nacional. Sendo assim, o gás natural renovável, como, também, podemos chamá-lo, tem a vantagem de ser de baixa ou negativa intensidade de carbono, aplicável ao transporte pesado, logística, indústria e, na forma de BioLNG, à navegação. Caminhões brasileiros já estão sendo operados, de forma comercial, com biometano ou gás natural. Quando falamos em ônibus, há pequenas mobilizações, com projetos de avaliação sobre sua viabilidade técnica e econômica.

Quanto ao etanol, todos já sabemos que o País lidera, mundialmente, as pesquisas e a produção para uso em veículos automotores leves. Entretanto, se falarmos de caminhões e ônibus, esse biocombustível não está inserido como forma energética para movimentá-los. Mas, a tendência é que esse quadro mude com alguns desenvolvimentos que estão surgindo no mercado, onde a aplicação híbrida (etanol/eletricidade) se mostra com perspectiva positiva no futuro do transporte leve ou pesado.

Para o presidente do Instituto MBCBrasil, José Eduardo Luzzi, a Carta de Belém é a prova de que a liderança climática do Brasil não é apenas baseada em visões de longo prazo, mas em 50 anos de resultados concretos. “Aprendemos no campo e na indústria que a descarbonização eficaz é aquela que também gera emprego e fortalece a economia. Nossa mensagem ao mundo é que não há uma solução única. A rota brasileira, que une o sucesso do etanol, o potencial do biometano e do biodiesel, e o avanço da bioeletrificação, é um caminho testado e disponível para acelerar a transição global de forma justa, imediata e pragmática”, ressaltou.

Além da Carta de Belém, o Estudo da Anfavea feito em parceria com o BCG (Boston Consulting Group) revela que os veículos brasileiros têm a menor pegada de carbono do mundo quando avaliado o ciclo de vida de automóveis, caminhões e ônibus. De acordo com informações, o resultado mostra que o Brasil pode intensificar o uso dos biocombustíveis para reduzir emissões de gases de efeito estufa enquanto a eletrificação ganha escala no País. Além disso, demonstra que o avanço da descarbonização no Brasil depende da cadeia completa, com melhorias de desempenho na produção de insumos, por exemplo. “Combustíveis renováveis são eficazes para uma estratégia imediata de descarbonização. A eletrificação ainda está em processo de aceleração, mas o Brasil já conta com uma significativa parte de sua frota beneficiando-se do uso de biocombustíveis, o que aparece de forma clara no resultado do estudo. O trabalho revela também as discrepâncias nas emissões de veículos da mesma tecnologia em diferentes países, com o Brasil se posicionando como um líder global quando falamos das frotas mais limpas”, destacou Igor Calvet, presidente da Anfavea.

Intitulado “Caminhos da Descarbonização: a pegada de carbono no ciclo de vida do veículo”, o estudo, conforme a Anfavea informou, calculou de forma inédita as emissões de CO₂ em todo o ciclo de vida do veículo fabricado no Brasil, comparando-as com as de veículos produzidos em outros países. A pesquisa foi desenvolvida ao longo deste ano e usou como referência as emissões de veículos leves e pesados equivalentes, rodando no Brasil e nos principais mercados do mundo: União Europeia, Estados Unidos e China.

Imagem – Reprodução

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