Neste mundo tão digitalizado e com desvalorização de tudo que é analógico, é até surpreendente dizer que a compra de um livro físico e técnico é novidade e motivo para escrever um artigo para esta destacada revista. Todavia, entendo que há algumas reflexões interessantes para serem apresentadas. Talvez elas possam contribuir de alguma forma.
Primeiro, é importante o caminho para chegada ao livro. Estava estudando a literatura técnico-científica sobre financiamento do transporte público. Como sempre, uma das minhas fontes recorrentes é o acervo da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), que reúne publicações de valor inestimável. Vasculhei e encontrei um artigo do Professor Lindau, que sintetizava o livro Public Transport in Third World Cities, de autoria de Alan Armstrong-Wright, publicado em 1993. Eu já havia lido outras publicações que mencionavam esse livro, mas a síntese me deixou curioso. Então, busquei e não achei o livro no formato digital, mas a versão física estava em uma loja virtual. Foi caro e demorado, mas o livro chegou para matar minha curiosidade.
Esse livro é parte do conteúdo produzido por uma das mais importantes instituições de desenvolvimento de conhecimento especializado de transportes, que é o Transport Research Laboratory (TRL). Era um órgão do governo do Reino Unido, mas foi privatizado em 1996.
Especificamente em relação ao conteúdo do livro, os dados, as informações, as figuras e fotos representam bem a realidade do mundo do transporte público em várias cidades consideradas “Terceiro Mundo” à época. É interessante ver como os sistemas mudaram, especialmente os do Brasil. A constatação é que houve melhorias significativas, mas um ponto que destoa muito é que havia a perspectiva de crescimento da demanda do transporte público, principalmente no modo ônibus. Infelizmente, sabemos que, 32 anos depois, particularmente no Brasil, a demanda reduziu mais de 50%!
Na parte de maior interesse para mim, a seção sobre financiamento é bastante reveladora e relevante na atualidade. Todo o drama continua (custos, tarifa, qualidade etc.), e as soluções (subsídios, subvenções etc.) indicadas já vivenciamos e sabemos bem os resultados. Chama atenção a breve e discreta menção ao pedágio urbano (road pricing) como elemento de controle do transporte individual.
A principal conclusão é que vale a pena buscar informação qualificada para sair da superficialidade à qual nos acostumamos por comodidade. Principalmente quando estamos buscando perspectivas futuras, é fundamental conhecer bem o histórico, com os desafios enfrentados e as lições aprendidas.
Imagem – Reprodução














0 comentários