Por Juliana Sá, especialista em sustentabilidade
Os anos 60 foram marcados por importantes fatos históricos, como a Guerra dos Seis Dias entre árabes e israelenses, a inauguração da capital Brasília, a construção do Muro de Berlim, dentre outros.
Marcante também foi o dia 20 de julho de 1969, quando o astronauta americano Neil Armstrong, ficou conhecido como o primeiro homem a pisar na Lua e dizer a célebre frase: “Um pequeno passo para um homem, um grande salto para a humanidade.”
Mas vou lhe contar de um outro grande salto para a humanidade que não aparece nas páginas dos livros de história.
Em um pequeno país localizado no Norte da Europa – mais precisamente na região da Escandinávia -, àquela época surgia uma novidade que anos depois transformaria a indústria do transporte e o que mais à frente chamaríamos de #mobilidadesustentável.
A Suécia – segunda nação no mundo no Índice Global de Inovação, o Global Innovation Index –, deu jeito de resolver o problema do crescente volume de esgoto produzido no país. Desde aquela época, o lixo orgânico sueco tem virado biogás.
Mas, foi na década seguinte que veio a grande sacada, provocada por fatores externos, quando se descobriu que o petróleo não era um recurso renovável. A crise do “ouro preto” desestabilizou a economia global – em pouco mais de cinco meses o preço do barril aumentou 400% -, causando reflexos nos preços nos Estados Unidos e na Europa (qualquer semelhança com a crise do gás natural por conta da Guerra da Rússia e Ucrânia é mera coincidência, diriam os críticos).
A Suécia, como parte da Europa, não ficou de fora dos impactos dos altos preços do petróleo. De novo fazendo uso do DNA de inovação, investiu em pesquisa e desenvolvimento de técnicas de uso do biogás, como a construção de novas usinas para reduzir os problemas ambientais e a dependência do petróleo.
Nas décadas de 1970 e 1980, as refinarias de açúcar e de celulose começaram a fazer o tratamento de efluentes por meio da digestão anaeróbica, um processo feito por bactérias em um meio sem a presença de oxigênio. Ao se “alimentar” dos resíduos, as bactérias fazem a decomposição deste material resultando na eliminação de um gás renovável de metano, o conhecido biogás. O esterco das propriedades rurais também passou a ser matéria-prima para a produção do mesmo tipo de gás.
A inovação fazia com que este material, que inevitavelmente seria decomposto e transformado em um biogás, fosse lançado para a atmosfera e, em vez disso, fosse usado como fonte de energia.
Era uma forma de fazer história, por meio da ciência, em um pequeno espaço geográfico do mundo.
Ainda nos anos de 1980, os aterros deram lugar à usinas de biogás alimentadas com resíduos orgânicos urbanos. Na década seguinte, várias novas instalações deste tipo foram construídas para tratar as sobras da indústria de alimentos e de matadouros, além de resíduos residenciais e de restaurantes.
Mas, observou-se que ao aumentar a concentração de metano do biogás, seria possível produzir biometano, combustível renovável que substitui perfeitamente o gás natural fóssil no transporte terrestre.
A Suécia, além de ser um país conhecido por suas importantes inovações, tornou-se também pioneira em soluções sustentáveis para o ecossitema de logística e transporte. O país, hoje, é referência no uso desse “ouro verde” e se orgulha de reciclar 99% de seu lixo, transformando os componentes orgânicos dos resíduos urbanos e agrícolas em combustível para mover ônibus e caminhões. Um belo exemplo de #economiacircular!
A capital Estocolmo foi a primeira cidade do mundo a ter 100% do transporte público movido a combustíveis renováveis, ainda em 2017, e boa parte é movida a biogás. São cerca de 450 linhas de ônibus para atender uma demanda diária de cerca de 800 mil passageiros.
Em 2019, aproximadamente 20% de toda a frota de ônibus da Suécia era composta por ônibus movidos a gás. Até 2030, o país deverá eliminar gradualmente o gás natural no transporte e substituí-lo por 100% de biogás.
E quem diria que um pequeno país, com pouco mais de 10 milhões de habitantes, faria história como o laboratório e vitrine global para o transporte sustentável que o resto do mundo precisa?
Imagens – Scania e arquivo pessoal
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