Editorial
Mais um ano fecha suas portas, revelando que os sistemas de transporte de passageiros em nosso Brasil tiveram diversas circunstâncias carregadas de desafios, cheias de projetos, trabalho e ações, aspectos que determinaram o sucesso ou a sua ausência perante a mobilidade coletiva sobre pneus.
O transporte realizado pelo ônibus tem cenários distintos para uma avaliação mais aprofundada. Continuamos a ser o país desse modal que é o principal no deslocamento das pessoas. Sabemos fazer ônibus como ninguém, com projetos, veículos e modelos adequados às multiplicidades de nichos. Mas, ainda, podemos ver que na lógica operacional os segmentos se diferenciam, respondendo, de maneiras desiguais as demandas de seus clientes.
No setor urbano, o tão esperado Marco Regulatório, que tem o objetivo de promover mudanças significativas nas relações entre operadores, poder público e passageiros, reduzir o impacto econômico, qualificar e modernizar os serviços e aprimorar contratos de concessão do transporte coletivo, ficou, novamente, aguardando sua aprovação no Congresso Brasileiro.
Com isso, o segmento segue cambaleando em meio à uma concorrência cada vez mais acirrada, vinda de outros modais que caíram no gosto das pessoas – automóvel e motocicleta próprios, transporte por aplicativo e as conhecidas caminhada e bicicleta. Para sobreviverem, os serviços de ônibus (a maioria sem atrativos) têm necessitados de aportes financeiros oriundos das prefeituras.
Em paralelo, a adoção da tarifa zero tem brilhado os olhos de prefeitos que olham para o contexto uma forma de valorizar e resgatar os serviços e a demanda transportada. Se a prefeitura tem condições financeiros para isso, nada melhor que aproveitar o momento. Porém, até quando? Todos querem algo de graça, mas, quem paga por isso?
Quanto ao processo de descarbonização, a tração elétrica foi a eleita para ser o seu principal combustível. Entretanto, numa análise abrangente, é preciso lembrar que outras formas limpas de propulsão se encontram disponíveis no setor. Falta vontade política para que escolhas unilaterais não sejam as únicas enquanto o País tem o potencial para oferecer biometano, diesel verde e até hidrogênio visando alcançar as metas limpas.
Enquanto o ônibus urbano sente os efeitos negativos, o estradeiro, aquele que liga as cidades e os estados, vai bem, obrigado. O setor veio se modernizando nos últimos anos com políticas de governança que impactaram sua operação, com o propósito de dar ao seu público uma identidade em que o conforto e a segurança viajam juntas.
Menos engessado que os serviços subservientes aos prefeitos e órgãos municipais descompromissados com a causa, o mercado rodoviário teve, no decorrer de 2024, o seu Marco Regulatório aprovado para proporcionar e garantir o desempenho operacional e uma relação salutar entre os envolvidos. Com isso, podemos ver constantes investimentos na renovação das frotas e na valorização profissional, no aumento da oferta de linhas regulares e a preocupação em manter o alto nível dos serviços. Claro que questões relacionadas com a infraestrutura (rodovias e pontos de apoio sem qualidade) ainda afetam o modal. Nesse aspecto, é dever dos governos em dar e cobrar melhores condições para que as pessoas usufruam dos ônibus rodoviários.
Por fim, o transporte em regime de fretamento buscou superar os seus desafios, sempre utilizando-se de estratégias comerciais em que a inovação determina seu ritmo de vida. Por si, é um setor de grande importância para a mobilidade das pessoas, com a responsabilidade de incentivar o trabalho e o turismo brasileiro.
Logo, 2025 já chega. Será que repetirei estas palavras em seu fim? Vamos aguardar os seus desdobramentos.
Um adendo: O transporte rodoviário por linhas regulares tem mais um ponto a seu favor – o atual momento do setor aéreo. Com o valor das passagens literalmente nas alturas e a falta de peças no mercado para a manutenção dos aviões, obrigando as companhias a manterem em solo suas aeronaves, o ônibus estradeiro revela-se uma opção interessante para se conhecer o Brasil por terra.
Imagens – Acervo revista AutoBus
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